O verão na Nazaré é sinónimo de clientes “acamados” [expressão nazarena que significa muita quantidade] e uma alegria que contagia quem por lá passa, seja na praia, no Sítio ou na Pederneira. No entanto, devido à pandemia da Covid-19, tudo leva a crer que este será um verão “triste”, em que a venda das pevides, tremoços, cajus e bolachas americanas deixou de ser o que era.
O verão na Nazaré é sinónimo de clientes “acamados” [expressão nazarena que significa muita quantidade] e uma alegria que contagia quem por lá passa, seja na praia, no Sítio ou na Pederneira. No entanto, devido à pandemia da Covid-19, tudo leva a crer que este será um verão “triste”, em que a venda das pevides, tremoços, cajus e bolachas americanas deixou de ser o que era.
“Isto está a ser muito complicado, não temos turistas e o cliente português compra pequenas quantidades que nem justificam estar na banca o dia todo”, desabafa ao REGIÃO DE CISTER Isabel Matias, de 56 anos, que estabeleceu a sua banca no Sítio há seis anos.
Filha de mãe peixeira e pai pescador, a nazarena revela que desde o período de desconfinamento não chega a vender um terço do que o vende em anos anteriores, por estas semanas do ano. “O público português tem pouco poder de compra e os turistas, que são o nosso grande público, não existem”, explica a comerciante, sublinhando que este tipo de negócios “vive” muitos dos “acordos” com os guias e da chegada de excursões.
“Os guias trazem sempre os estrangeiros às nossas bancas e temos sempre boas receitas com eles”, conta Isabel Matias, lamentando que “este ano o terreiro do Sítio seja um lugar vazio”. “Onde está a Nazaré das enchentes na praia e do terreiro cheio?”, questiona, enquanto aponta para a praça.
“Falta as pessoas verem o nosso sorriso, que agora está tapado com a máscara, e as conversas que meia volta davam para vender alguma coisa”, lamenta a pevideira, como são conhecidas as mulheres que se dedicam a este negócio na Nazaré.
“Este verão está a relembrar os verões de há 20 ou 30 anos”, confessa a nazarena, notando que a divulgação das ondas gigantes trouxe “verões muito rentáveis para os negócios”, remata.
O mesmo sentimento é partilhado por Luísa Laborinho que, na banca da Luísinha, tem atendido pouco mais de meia dúzia de clientes por dia. “Estou aqui desde o passado dia 6 e só atendi um cliente estrangeiro”, conta, revelando que agora o horário de trabalho é mais reduzido. “Chego por volta das 10 horas e às 17 horas já estou a encerrar a banca”, informa a nazarena, lembrando os verões em que chegava ao Sítio às 8 horas e apenas ia embora às 21 horas.
“Neste momento apenas vendemos alguma coisa ao fim de semana, mas mesmo assim é muito pouco para quem chegava a fazer mais de 100 euros em dias bons de verões anteriores”.
Em tempos normais, havia sete bancas a trabalhar ao mesmo tempo, mas nos últimos dias apenas cinco estão abertas durante a semana, entre as quais a de Maria do Carmo. A comerciante, que estabeleceu negócio no Sítio há várias décadas, revela que tem dias que apenas tem um cliente e que ainda não vendeu nada a estrangeiros. “Fazemos a nossa parte e acredito que as vendas ainda vão melhorar, mas não têm sido tempos nada fáceis”, desabafa.
Resta a esperança às mulheres das sete saias para voltarem a vender e a manter viva uma das tradições da Nazaré.