Quando a gente olha para um gráfico, quando um político desenrola um papel, cometemos, desde logo, a desumanidade de não pensarmos que dentro dessas linhas que sobem e descem, conforme vira o baile, existem pessoas que não são retas, nem curvas.
É o caso dos CTT. “Privados são pior, públicos é que era”, como se muito do mal não estivesse na nossa própria incapacidade de esperar numa fila, de ir bem preparados, de termos uma ponta de civilidade. Muita da minha carreira musical se deve aos Correios de Portugal. Antes da “net”, eram eles que me aproximavam do meu mundo e do que viria a ser a minha profissão. Decerto que apanhei com funcionários mais ou menos simpáticos, mas aprendi que a minha sensação, não passa mesmo disso, e que não sabendo se essa pessoa está com algum problema e, mesmo assim, ali está a servir o cliente, não devo, nem posso ajuizar.
Muitas vezes sonhei, romanticamente, em trabalhar num posto dos correios ou levar a correspondência à casa das pessoas. Há algo de profundamente humano nesse labor. Conheço muita gente ligada aos CTT e sei que, não sendo perfeito, é um bom emprego, com estabilidade e relevância.
Já fui “aos correios” em todo o mundo, mas agora vou ali à estação ao pé do Mosteiro onde sou sempre bem recebido e servido. Afigura-se-me como uma estação bem gerida, espaçosa, com recursos e simpaticamente expedita. Quando toca a serem “os correios” a vir cá a casa, a experiência é a mesma: cortesia e eficácia. Quero lá saber do gráfico que o político analisa como bem lhe apetece. Aliás se desse para os despachar todos para a posta restante, acho que, nesta altura do campeonato, ninguém viria reclamar essas infelizes encomendas.
O mundo não gira à nossa volta, nem de onde vamos beber copos ou cortar o cabelo, ou à volta do nosso “negócio”, ou sequer do que pensamos. Mas as cartas, os vales, as encomendas, os problemas, mas também os afetos, esses giram à volta do mundo e nenhuma má-fé ou crise os tem parado.