Domingo, Junho 29, 2025
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Nenhuma santidade ultrapassa o seu tempo

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Há muita coisa que nem toda a história nos consegue ensinar

A frase que dá título a este “artiguito” é uma paráfrase do célebre axioma filosófico segundo o qual “nenhuma filosofia ultrapassa o seu tempo” e foi-me sugerido por duas casualidades: a proximidade do dia 20 de agosto, em que se comemora a morte de S. Bernardo (1153) e a publicação recente de um livro de Amílcar Coelho, sobre as polémicas havidas entre o santo e o intelectual Pedro Abelardo.


Um dos factos que mais distorce a realidade é a intromissão do sentimento nos julgamentos da razão – quer seja para dizer bem de tudo (versão hagiográfica) quer seja para dizer mal de tudo (versão diabolizante). Ora, o que acontece é que a realidade não cabe dentro de um esquema maniqueísta, porque ela não é a preto e branco, mas sim composta por uma paleta infinita de cores e cambiantes.

Abelardo era um intelectual insubmisso, contemporâneo de Bernardo. Ligado à universidade e à discussão de ideias, tinha como missão submeter todo o saber ao exame da razão. E, para além daquilo que, hoje, nos parece evidente, ele acrescentava uma razão de peso: se o cristão não souber discutir com os gentios, nunca os poderá converter, a não ser pela força. Se não se aperceber das dificuldades para a razão que a aceitação de dogmas comporta, ficará humilhado numa discussão aberta com os não crentes. Como explicar a um gentio o dogma da Trindade, por exemplo?

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Bernardo nada queria saber destas questiúnculas. Vivendo num tempo difícil, com um cisma a ameaçar a unidade da Igreja (algo que, como sabemos, não foi de todo evitado) e com Abelardo do “lado errado das opiniões”, mostrou-se implacável, tanto para ele como para todos aqueles que estivessem contra o papa “legítimo” de então (Inocêncio II). Para vencer esta cruzada, entre as várias que pregou, utilizou todo o tipo de argumentos falaciosos e de “maquinações”, para além de uma linguagem que não julgaríamos digna de um santo.

Há muita coisa que nem toda a história nos consegue ensinar. Contudo, bastaria olhar, ainda hoje, para certos exemplos que tão abundantemente ela nos dá para sabermos como é curta a distância entre o santo e o monstro, entre o bestial e a besta.

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