Passei uma grande parte da minha adolescência no ABCD. Este nome não vos diz nada, mas é uma das (inúmeras) associações recreativas, que, tantas vezes e sem reconhecimento à altura, substituem a sociedade civil, já para não falar no Estado, que somos nós, não metafórica, mas literalmente.
O ABCD teve um percurso mais visível no desporto no seu início (há mais de 30 anos) mas nunca esqueceu a parte cultural. Por lá joguei, sem muito jeito, mas com entusiasmo, futebol, pratiquei atletismo, fui a Espanha jogar xadrez (para este desporto já tinha mais jeito, ao que parece), e.…andebol. A associação viria a evoluir enquanto ATL e cabe-lhe a ela a grande responsabilidade de receber, formar e entreter as crianças, enquanto os seus pais estão nos seus dois empregos, a fazer pela vida.
O meu filho joga agora andebol no Cister e diverte-se muito. Marca uns golos que nós celebramos efusivamente, mas com cuidado, para não o envergonhar. Para mim, é como um regresso às raízes: levantar-me cedo, encontrar os outros pais, beber um café, visitar os pavilhões da região, pagar as quotas, comprar os equipamentos. É uma experiência fantástica de inclusão, de comunidade, de verdadeira formação para os miúdos e miúdas, que por lá, atrás de uma bola, se vão conhecendo, a eles e aos outros.
Fiquei muito agradado com a estrutura do clube. É dinâmica, inteligível e próxima. Vê-se, e assim é o associativismo, o cuidado voluntário, e nem me atrevo a contabilizar as horas roubadas à família para acompanhar toda aquela gente, dos minis aos seniores. Sei das dificuldades, de gestão dos espaços e transportes e deixo a dica para que se arranje orçamento aí num cantinho qualquer do PPR local para se investir num autocarro, que se pintaria de azul e amarelo, as cores do clube e dos seus bonitos equipamentos.
Quando os minis vêm agradecer ao público feito de pais, mães, avôs e avós, irmãos e irmãs, há um momento de felicidade e de união, que o dinheiro não compra, mas que pode ajudar a transportar, a equilibrar, a concretizar. O investimento nesta forma de educação é dinheiro em caixa porque o resultado é sempre o lucro. Da amizade, do compromisso, do crescer com valores sempre no máximo.