Quarta-feira, Agosto 27, 2025
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A banalização do mal

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Esta expressão é de Hanna Arendt (1906-1975). Arendt foi a correspondente da “The New Yorker” durante o julgamento de Eichmann. Este destacado militar alemão durante o regime nazi, foi raptado pela Mossad, na Argentina e transferido para Israel, onde foi julgado e condenado à morte por enforcamento – sentença executada em 1 de junho de 1962, na prisão de Ramla. Em 1963, Arendt publicou as suas reflexões sobre este evento no livro “Eichmann em Jerusalém – um relato sobre a banalidade do mal”. A ideia mais original, e que concitou protestos entre os judeus, era a de que Eichmann não era um monstro, mas um homem “normal”, facto certificado por diversos especialistas. Ele tinha entrado para o partido nazi porque via nessa adesão a possibilidade de uma boa carreira. E, no seio desse partido, fez tudo o que era normal, “banal”: ser o mais fiel colaborador possível, progredir na carreira; enfim, ser um competente burocrata. Para mim, contudo, a ideia mais importante desta obra é a de que essa “banalização do mal” só é possível pela destruição da individualidade, pelo isolamento do indivíduo. Desse modo, o homem, privado da sua individualidade, não ouve o seu “demónio”. Nessa solidão funcional, Eichmann, candidato a uma boa carreira, ao perfil de um bom militar e cidadão, apenas ouviu soundbytes, palavras de ordem, incentivos à ação.

Hoje, a banalização do mal ganhou novas dimensões. Há uma guerra na Europa que significa, para já, centenas de milhares de mortos, entre militares e civis – para além da destruição de símbolos e de território. Olhar para cidades como Bakhmut ou Avdiivka é uma dor para quem achava que a guerra não voltaria à Europa. Porém, olhar para a Faixa de Gaza é ainda pior. Sim, Lula, Guterres, Borrell e outros têm razão: o Israel de Natanyahu está a comportar-se como um estado que, tal como o regime nazi, banaliza o mal. Assim, ao ver a Faixa de Gaza destruída, esventrada, com gente que, acossada pelo terror, já nem sequer protesta, só me apeteceu ouvir o “Quarteto para o fim do tempo”, de Oivier Messiaen. Fiquem com a música. Tentem lutar contra a aniquilação daquele tempo em que nos podemos encontrar connosco.

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