este mesmo ano em que celebramos os 500 anos do nascimento do nosso poeta maior, Camões, pergunto-me como seria o meu país, se o meu país se lembrasse dele e dos seus heróis.
Susana Santos
Um país onde as ruas, as praças e as avenidas têm nomes de poetas. Se fôssemos gente que, mesmo analfabeta, de desafia à desgarrada e que, em dias duros, canta trovas e rimas para afastar as tristezas e depois, mesmo já quase sem voz e sem memória, ainda se lembra dos versos de quando era menino.
Se da nossa língua se visse o mar, se ao invés de opróbrios e insultos servisse para exaltar feitos e sucessos, se ao menos lêssemos que “Quem faz injúria vil e sem razão / Com forças e poder em que está posto / Não vence; que a vitória verdadeira / É saber ter justiça nua e inteira.”
Ah, se fôssemos um país capaz de cantar as suas aventuras em épicas oitavas, ou de convocar o quinto império em mensagens sobre o futuro por cumprir. Se, conhecendo os poetas nos conhecêssemos melhor, estou em crer que gostaríamos mais de nós.
Este ano, este mesmo ano em que celebramos os 500 anos do nascimento do nosso poeta maior, Camões, pergunto-me como seria o meu país, se o meu país se lembrasse dele e dos seus heróis.
Pergunto-me como seriam os nossos serões, se os acabássemos a dizer em voz alta que sim, que temos orgulho naqueles que por “obras valerosas se vão da lei da morte libertando”, mesmo se o meu país os quiser voltar a matar, enterrando no esquecimento essas obras cujos cantos nos definem, nos acrescentam e recordam os valores do nosso “ilustre peito lusitano”.
Passaram-se 500 anos, e depois dele, todos os poetas foram maiores porque ele existiu e nos cantou. Passaram-se cinco séculos, e nada, no meu país de poetas me cheira a poesia. Passaram-se 50 anos depois de Abril, e todos vão declamar Sophia, sem, verdadeiramente perceberem que isto só lá vai se entendermos as estrofes desse dia.