Terça-feira, Março 25, 2025
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E se um agressor se converter em protetor?

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É importante perceber que os agressores transportam consigo as razões para a sua raiva e esta será, depois, agravada pelo peso da culpa, numa espiral de violência que importa travar.

Susana Santos

Há poucos dias foram divulgadas imagens de um jovem com autismo a ser espancado por um colega no recreio da escola, enquanto outros assistiam e filmavam a cena.

Esta notícia, amplificada nas redes e nas televisões, provocou um sobressalto social e logo vieram os adultos reclamar a demissão da direção da escola, a expulsão do aluno agressor, o castigo de todos os que não prestaram auxílio, a suspensão dos que registaram a cena e ainda a transferência do menino agredido para outra escola.

Sou apenas mãe de filhos que estão na escola e, por isso, é como mãe que partilho convosco a imensa tristeza com que assisti a todo este círculo de informação, com a certeza de que, como todos os assuntos importantes, só voltará a ser falado quando um novo aluno for de novo agredido e vierem outros adultos reclamar as mesmas coisas, sem nenhum efeito ou consequência ou preocupação com as manchas que este episódio deixará em todos os jovens envolvidos na cena.

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Perdemos, mais uma vez, a oportunidade de refletirmos nas soluções para estes casos. Porque, não nos enganemos, quase todos os alunos, ao longo da sua vida académica, serão alguma vez agredidos, serão alguma vez agressores e serão confrontados com injustiças e agirão mal, algumas vezes. Aos adultos, cabe-nos ajudá-los a ultrapassar os traumas de uma e de outra situação. Claro que devemos proteger, sobretudo, os mais vulneráveis, mas não devemos, na minha opinião, deixar de ajudar os alunos que agridem ou que, por necessidade de reconhecimento dos pares ou mesmo por medo, agem de forma errada ou paralisam perante uma situação de injustiça. É importante perceber que os agressores transportam consigo as razões para a sua raiva e esta será, depois, agravada pelo peso da culpa, numa espiral de violência que importa travar. Quando expostos, castigados ou expulsos, passam a carregar a vergonha também e, por isso mesmo, precisam igualmente de ajuda. Como não acredito que seja possível resolver um problema escolar, expulsando ou suspendendo os alunos do ambiente escolar, continuamos a agravar, ao invés de procurar resolver os problemas.

Situações como esta deveriam ser oportunidades para provocar o diálogo entre os alunos, dando a uns a oportunidade de se redimam e a outros a ocasião para pedir desculpas e para perdoar. Estas sim, são atitudes curativas que podem ajudar toda a comunidade escolar sair desta situação sem traumas para o futuro e com uma lição aprendida e partilhada. Uma lição de coragem, de entreajuda, de humildade e de esperança no futuro. Escolher o castigo e a vingança, à redenção e à reflexão equivale a resolver bullying com mais bullying.

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