Estava aqui a pensar em palavras que expressam a nossa responsabilidade social, que é como quem diz, as nossas obrigações com as pessoas e o meio em que vivemos. Vieram-me à cabeça duas: “Porquê” e “liberdade”. Não parecem relacionadas, mas a verdade é que, na minha opinião, ambas revelam a nossa condição humana, por oposição às máquinas e aos bichos.
“Porquê” exprime a permanente curiosidade, a vontade de aprender que, desde cedo na evolução da humanidade e desde cedo na evolução de cada humano, nos impele a saber mais, a descobrir, a investigar, a procurar, a estudar. Pode surgir como recurso para resolver um problema ou, simplesmente, para apaziguar uma qualquer inquietação do espírito ou da razão.
Por outras palavras, o “porquê” é muitas vezes utilitário, mas, na maioria dos casos, resulta da nossa livre e solitária busca pelo conhecimento, pela razão das coisas, do nosso impulso de “liberdade”.
Sem ela, sem a liberdade, somos formigas num carreiro, abelhas numa colmeia e os humanos não somos nem uma coisa nem outra. Não nascemos para obreiras ou abelhas-mestras, seremos mais, como diria Aldous Huxley no seu “Regresso ao Admirável Mundo Novo”, que me inspirou esta reflexão, lobos, seres apenas moderadamente gregários.
Farto-me de pensar na liberdade e no que significa. Acho que a irei perseguir todos os dias da minha vida, enquanto a razão me não abandonar. A liberdade é um valor profundamente humano e humanizador, difícil de alcançar. Contudo, uma coisa tenho por certa, sem “porquês” não há liberdade, e sem esta, nem responsabilidade connosco ou com os outros, nem sequer humanidade. Como nos versos de Torga “Enquanto não alcances / Não descanses./ De nenhum fruto queiras só metade.”