Quinta-feira, Agosto 28, 2025
Quinta-feira, Agosto 28, 2025

Nenhuma santidade ultrapassa o seu tempo

Data:

Partilhar artigo:

Há muita coisa que nem toda a história nos consegue ensinar

A frase que dá título a este “artiguito” é uma paráfrase do célebre axioma filosófico segundo o qual “nenhuma filosofia ultrapassa o seu tempo” e foi-me sugerido por duas casualidades: a proximidade do dia 20 de agosto, em que se comemora a morte de S. Bernardo (1153) e a publicação recente de um livro de Amílcar Coelho, sobre as polémicas havidas entre o santo e o intelectual Pedro Abelardo.


Um dos factos que mais distorce a realidade é a intromissão do sentimento nos julgamentos da razão – quer seja para dizer bem de tudo (versão hagiográfica) quer seja para dizer mal de tudo (versão diabolizante). Ora, o que acontece é que a realidade não cabe dentro de um esquema maniqueísta, porque ela não é a preto e branco, mas sim composta por uma paleta infinita de cores e cambiantes.

Abelardo era um intelectual insubmisso, contemporâneo de Bernardo. Ligado à universidade e à discussão de ideias, tinha como missão submeter todo o saber ao exame da razão. E, para além daquilo que, hoje, nos parece evidente, ele acrescentava uma razão de peso: se o cristão não souber discutir com os gentios, nunca os poderá converter, a não ser pela força. Se não se aperceber das dificuldades para a razão que a aceitação de dogmas comporta, ficará humilhado numa discussão aberta com os não crentes. Como explicar a um gentio o dogma da Trindade, por exemplo?

Região de Cister - Assine já!

Bernardo nada queria saber destas questiúnculas. Vivendo num tempo difícil, com um cisma a ameaçar a unidade da Igreja (algo que, como sabemos, não foi de todo evitado) e com Abelardo do “lado errado das opiniões”, mostrou-se implacável, tanto para ele como para todos aqueles que estivessem contra o papa “legítimo” de então (Inocêncio II). Para vencer esta cruzada, entre as várias que pregou, utilizou todo o tipo de argumentos falaciosos e de “maquinações”, para além de uma linguagem que não julgaríamos digna de um santo.

Há muita coisa que nem toda a história nos consegue ensinar. Contudo, bastaria olhar, ainda hoje, para certos exemplos que tão abundantemente ela nos dá para sabermos como é curta a distância entre o santo e o monstro, entre o bestial e a besta.

AD Footer

Artigos Relacionados

Beneclima aposta em ares condicionados e eletricidade

A Beneclima está sediada, tal como o nome antecipa, na Benedita e acumula cerca de 20 anos de...

Elogio do elogio

Então não será mais agradável dizer de alguém que “está bonito”, “escreveu bem” ou “teve coragem” do que...

“Felp” junta Diana Nicolau e bonecos da S.A. Marionetas em horário nobre

“Felp”, a série que junta a atriz alcobacense Diana Nicolau e a S.A. Marionetas, já chegou à televisão...

Nazareno dedica-se à coleção e restauro de bicicletas antigas

Na Nazaré, onde o mar dita o ritmo da vida, há também quem encontre noutras rodas uma forma...

Aceda ao conteúdo premium do Região de Cister!