Este projeto parece-me ser feito de intimidades, de silêncios tranquilos, de belezas não evidentes, mas firmes como as paredes em que se inscreve
No passado dia 13 de outubro, incluí um vasto grupo de convidados do Sr. Presidente da Câmara, numa visita ao Hotel em fase final de instalação no Mosteiro de Alcobaça.
Não vou patrocinar velhas diatribes sobre a solução ótima para aquele espaço, tanto mais que, tendo visto o que vi e tendo memória do que havia visto há décadas, qualquer “mas” é completamente inútil, injusto e descontextualizado.
De igual modo, não vou entrar em discursos “mui altos e subidos” sobre o merecimento do projeto: nada sei de arquitetura e, sobre estética, mau grado a minha formação e exercício, tenho mais dúvidas do que certezas. Por isso, fico sossegado, a priori, por saber que há um mestre à frente deste projeto, o Arquiteto Souto Moura.
Entrando no “Hotel de luxo”, o que se descobre é o espírito original de Cister, a calma, a força das paredes, a austera certeza de que estamos em casa, naquelas casas que, ainda há pouco tempo, eram construídas para sempre. (Podemos fingir que acreditamos na perenidade das coisas, num tempo em que a loucura de um só homem pode reduzir a cinzas os mais belos sonhos de perenidade? Acreditemos, por ora, que sim, que a beleza nos pode redimir.)
Nada, por certo, faltará aos novos e felizes “monges” que tiverem a sorte de poderem optar por um programa neste espaço de eleição. O que se respira é a diferença. Pode haver, e há, sítios mais opulentos em que possamos usufruir de mais gadgets: quem pretender glamour, mais ou menos plástico, não se abeire deste lugar. Pode haver, e há, paisagens mais encorajadoras. A este nível, urge dar uma solução célere à vergonha que ainda se mantém à sua frente.
Este projeto parece-me ser feito de intimidades, de silêncios tranquilos, de belezas não evidentes, mas firmes como as paredes em que se inscreve.
Se os preços não forem proibitivos, mesmo sendo de Alcobaça, quero lá voltar, um dia destes, como cliente.