Quarta-feira, Maio 1, 2024
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Surdez seletiva

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Sem nos apercebermos, vamos perdendo a capacidade de aceitar o desafio

Susana Santos

Em que momento deixámos de conseguir dialogar? Nunca tivemos tantas ferramentas de comunicação, como as que temos nesta era. A grande maioria tem um corpo físico que só se completa com um pequeno retângulo que lhe permite comunicar com o mundo todo, instantaneamente, permanentemente.

Apesar disto, algo de paradoxal se está a passar e que julgo ser a nossa crescente incapacidade de receber mensagens. Se, por um lado, a nossa possibilidade de as emitir é ilimitada, parece ter surgido, ao mesmo tempo, uma progressiva aversão ao diálogo, à discussão, ao contraditório, como se cultivássemos uma surdez seletiva, que só consente ouvir quem está na nossa frequência. Não sei em que momento passámos a sintonizar os nossos recetores – sejam os dos sentidos ou os aparelhos eletrónicos – apenas nas opiniões coincidentes. Os algoritmos selecionam o que julgam que queremos ou gostamos de ver e ouvir, e o nosso cérebro parece ajustar-se à preposição desses algoritmos. E assim passamos a viver apenas com e para quem partilha gostos e opiniões connosco.

Sem nos apercebermos, vamos perdendo a capacidade de aceitar o desafio. A interpelação, o humor ou a surpresa surgem como ofensa… vamo-nos tornando mais radicais, menos capazes de ver e entender o outro, sobretudo se o outro for diferente de nós. E neste processo, perdemos um universo de possibilidades de crítica, de estender o pensamento e de alargar o conhecimento. Por outras palavras, tornamo-nos mais maniqueístas, mais agressivos e polarizados. Quem sofre é um dos valores que melhor garante a paz social, que é a tolerância e o gesto que a faz crescer, que é o sorriso.

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P.S. Escrevo este artigo na sequência da polémica gerada em torno da intervenção no bico da memória, na Nazaré. Confesso-vos que não tenho uma opinião sobre o assunto, sobretudo porque não consegui, de nenhum dos lados envolvidos, recolher argumentos ponderados que me permitam adivinhar uma solução de compromisso, que preserve a memória histórica e afetiva do lugar e valorize o património, sem descuidar a segurança. Aliás, temo bem, que com este argumento da segurança, se esteja a impor todo o tipo de atropelos à liberdade. 

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