Era uma vez uma menina cega chamada Ana Isa. Um dia, vá lá saber-se porquê, mas é, de certeza, coisa de quem apenas vê com o coração, a Ana Isa descobriu o Vitorino, sim, esse mesmo, um dos nomes maiores da música popular portuguesa, com aspeto de distante, para não dizer coisa menos simpática, mas é assim que nascem...
A investigação da verdade, a vontade de ler o pensamento alheio, para o controlar deve ser tão antiga como a humanidade. Com o advento da ciência, esta também quis, e quer, dar uma palavra sobre o assunto. E nasceu, assim, o polígrafo: quando uma pessoa é questionada, uma série de cabos e sensores examinam os batimentos cardíacos, a pressão...
Devo dizer que, como ex-católico tradicional, formado, em grande parte, num seminário de Braga, sempre me identifiquei mais com o Natal do que com a Páscoa. No entanto, sempre percebi que o âmago dos mistérios religiosos estava na Páscoa. Talvez por isso, enquanto que, no Natal, chegava a casa dos meus pais por volta de 18 de dezembro, na...
“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.”
(Álvaro de Campos, Poema em linha reta)
Se eu fosse ministro da Saúde, se, por impensável, me restasse algum tempo livre, pensaria em reescrever este poema de Álvaro de Campos, se o génio me visitasse por engano. E, tal como ele, “invejaria” aqueles que nunca erram, aqueles...
Comecei a escrever este texto em modo de zangado, desancando em quem se acha “herói” nesta situação, de contornos épicos, em que um vírus nos colocou. Já ia na terceira enumeração de falsos heróis quando me dei conta do desaforo que estava a promover. De facto, para desgraça, basta-nos a realidade; não é necessário comentário que a potencie.
Assim, em...
As épocas de crise não são absolutamente más, embora, intrinsecamente, o sejam. Pelo seu dramatismo, lançam luz sobre domínios nunca pensados – ou pensados displicentemente. Há mais de 200 anos (em 1816), Napoleão, uma personagem de luz e de sombras, afirmou que a China não estava, como parecia estar na altura, votada ao declínio inexorável. E, como súmula do...
Os animais necrófagos vivem do que não vive. Às vezes, podem ser mistos, alimentando-se também do que caçam. Mas, sendo o seu core business a “alimentação oportunística”, gostam sobretudo do que os outros predadores deixam. Ou do que apodrece.
Por estes dias difíceis, em que a pandemia ataca, em todas as latitudes e em todas as culturas, os necrófagos estão...
Setembro é um mês lânguido e saudoso. Há nele um prenúncio de inverno. E, por trás deste simbolismo, outras significações se insinuam: com as folhas a caírem, pensamos também no outono das nossas vidas, antes da estação final.
Porém, ou talvez por isso, Setembro é também um mês doce e poético. E, se quisermos parar estas evocações, setembro, no ciclo...