Como seria se nunca tivesse partido ou se nunca tivesse voltado?
Nunca, como neste verão, nas inevitáveis andanças a que o calor e as férias nos impelem, estive tão atenta à “história de quem vai e de quem fica”. Entre aspas porque este é também o título de um dos magníficos romances da tetralogia “A Amiga Genial” de Elena Ferrante, que li este agosto.
Talvez estas reflexões tenham decorrido do próprio tema dos livros, que nos remete para a linearidade do tempo e para o espaço que nos enforma, ou talvez porque as férias, sendo uma espécie de parêntesis no nosso quotidiano, são propícias a encontros e a novos olhares. Encontros com quem vai e com quem fica em cada sítio que visitamos.
Uma parte sagrada do meu tempo de férias é passada nesta minha terra. Aqui convergimos os que foram viver noutra cidade, os que partiram para outro país, os que regressaram e os que nunca saíram deste lugar.
Estas histórias de quem vai e de quem fica depois do tempo suspenso das férias são o sal com que tempero a rotina dos dias. O parente próximo e o amigo ocasional acrescentam-me. Trazem consigo ecos de outras histórias que só posso adivinhar, transportam o peso de uma vida condimentada por outros horizontes e quando partem levam consigo um pouco do que sou também, deixando-me a dúvida sobre quem seria eu se seguisse por ali também.
No início de cada ano de trabalho, não posso deixar de agradecer a riqueza das suas vidas. Sejam elas vidas preenchidas pelo lugar onde nasci, sejam elas temperadas por terras outras, cuja natureza e razão me levam a refletir sobre a máxima de Ortega y Gasset “o homem é o homem e a sua circunstância”. Isto é, quem seria se acaso tivesse habitado outro lugar, se tivesse emigrado, se nunca tivesse saído ou regressado a esta terra.