Estive presente no lançamento do programa do multiusos de Alcobaça: Panorama. Fi-lo enquanto amigo e colega do Nuno Gonçalves (The Gift), mas também como cidadão pleno de Alcobaça.
Mais que ao protocolo, ao discurso, à relação pessoal, e ao evidente orgulho filial, protagonizado pelos familiares, amigos e equipa, que, como eu, querem que o Nuno triunfe nesta sua nova aventura de programador; estive atento à mensagem que, para mim, foi bem clara:
Alcobaça a gostar de si própria.
Será esse o trunfo que poderá ajudar o Panorama a se tornar naquele polo congregador que, através da música e do desporto, traga pessoas a Alcobaça e a ajude a crescer.
E crescer é abandonar lugares-comuns que, atualmente, pouco mais são que memórias de tempos que não voltam: o Bar Ben, o próprio Clinic, a movida que a entrada em cena dos Gift trouxe à noite da cidade. Porque eu, suburbano e nómada, tenho a vantagem de não me agarrar muitas às coisas, sinto, vezes demais, uma Alcobaça ora doente de saudade, ora presa ao Carnaval e aos encontros, aos jantares, às recordações.
O projeto Panorama carrega consigo essa oportunidade, a de vestir roupa nova, de auscultar a vontade local dos jovens, de ser a alternativa às benditas romarias, que, sendo essenciais, comportam o risco da sazonalidade. Alcobaça tem de ser todo o ano, todos os dias.
Já ouvi dizer que é “longe”, “lá para baixo”. Erro. Uma cidade tem de ser total. Alcobaça tem de ser mais que o Rossio, que as esplanadas, que a tenda. Tenho escrito que se deverá aprimorar aquela entrada de Alcobaça como parte integrante desta nova missão de descentralizar a cidade, irmã do meio de potências culturais ou desportivas como Caldas, Leiria ou Nazaré.
Será essa consciência, esse amor próprio, sem quezílias ou estados de alma agarrados ao passado, que ditará a sorte da maior empreitada cultural de sempre da cidade, e do nosso amigo Nuno, que tem roubado tempo ao tempo que não tem para encurtar a distância entre nós mesmos e os outros.