Abril, mês de aniversários. A revolução dos cravos, os livros, as árvores, a poesia e milhões de primaveras se comemoram em abril. Como que a provocar-me a reflexão, em abril é também o meu aniversário. Tenho mais quatro anos do que a madrugada inaugural, e, como cantou de Jorge de Sena: “Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade. Eu não posso senão ser desta terra em que nasci.”
Estou, portanto, a viver o mês de todos os balanços. E, para isso, voltei aqui, à minha terra. E, talvez por isso, senti a necessidade de caminhar pelos trilhos da serra e de me abraçar a uma árvore. Também entrei pelo mar a dentro para, no farol da Nazaré, agradecer o infinito. Remodelei uma pequena casa em São Martinho, disse poemas em voz alta, subi às nespereiras do quintal para apanhar japoinas, qua agora se chamam nêsperas, comi canja caseira e maçãs em casa da Nina.
Acho que ainda não conheço bem o valor da Liberdade. Porém, neste abril, percebi que se der graças pelos livros, os que li e aqueles que hei-de ler; se continuar a dizer poemas em voz alta e a inspirar o mar; se recordar o sabor dos caldos e das frutas caseiras e ainda reconhecer os cheiros e as lendas e os caminhos da serra, estarei, provavelmente, a aprender a colorir.