Nestes dias grandes, temos mais tempo para viajar, mesmo que, apenas, com o olhar, que o mesmo é dizer, recuperarmos a capacidade de nos espantarmos.
Susana Santos
“Creio que uma folha de erva não vale menos do que a jornada das estrelas”. Este verso, de Walt Whitman, poeta dos homens e da natureza, parece-me um bom mote para uma crónica de Verão.
Por esta altura, a maioria de nós está de férias ou espera por elas, ou, em tantos casos, observa as férias dos demais, o que é, por si só, uma espécie de parêntesis em relação ao resto do ano, um intervalo nas rotinas e, portanto, o momento para reflectir, ou sorrir, ou as duas coisas.
Nos dias extensos e largos do Verão, a luz intensa convida-nos a ver com mais nitidez. Podemos até olhar para as mesmas coisas de sempre. Mas, se além de olharmos, nos dedicarmos também a ver, tudo o que nos rodeia se pode tornar formidável.
Seja um búzio que encontrámos na praia, e cuja espiral, essa geometria sagrada, nos pode transportar ao infinito, seja a forma de uma montanha, o contorno de um tronco envelhecido ou, ainda e sempre, o assombroso pôr-do-sol no fim do mar.
É assim com a forma de uma alga que se nos cola às pernas, com o remate de um capitel e é, se o quisermos, com cada coisa que nos rodeia. Nestes dias grandes, temos mais tempo para viajar, mesmo que, apenas, com o olhar, que o mesmo é dizer, recuperarmos a capacidade de nos espantarmos.
Nem sequer é preciso tempo, trata-se de apenas de nos dedicarmos a ver e nos permitirmos emocionar com a forma do céu ou de uma sombra, porque a quantidade de beleza que nos rodeia é, de facto, espantosa. Por isso mesmo, lá vou eu, como todos os verões, passear na Serra d’ Aire e Candeeiros, visitar as praias do oeste e, ainda, revisitar as obras de arte com que tanto a natureza como os homens decidiram enfeitar a nossa terra.
Porém, quando o fizer, tenho a certeza que vou descobrir coisas novas para me emocionar. E quando vier o suão, hei-de deitar-me, de papo para o ar, à espera de uma estrela ou, quem sabe, de uma chuva delas.